Pessoas que abusam de substâncias lícitas ou ilícitas, incluindo o álcool,
tabaco e heroína, apresentam maiores índices de mortalidade quando comparadas a
indivíduos não usuários de substâncias. Muitas pesquisas têm sido realizadas
enfocando outras drogas e pouco se sabe sobre a mortalidade em usuários de
crack.
Neste estudo, realizado por pesquisadores brasileiros, foram investigados 131 pacientes dependentes de crack, admitidos para desintoxicação em um importante hospital público de São Paulo nos anos de 1992 a 1994 e que foram reavaliados 5 anos mais tarde.
Amostra, métodos e resultados:
A amostra foi predominantemente jovem (idade média de 23,6 anos), do sexo masculino (88,5%), cor branca (75%), solteira (67%), com baixo grau de escolaridade e desempregada (69%). Todos os indivíduos preencheram critério para diagnóstico de dependência de cocaína segundo o DSM-IV. Sessenta por cento da amostra era de usuários de crack há mais de um ano e 28,7% (n = 35) já havia feito uso injetável de alguma outra substância ilícita. Apenas dois pacientes relataram uso de heroína. Pouco menos de 50% dos pacientes tinham tratamento prévio.
Entre 1998 e 1999, 124 pessoas (94,6%) da amostra original foram encontradas (passado sem média 44,3 meses) e entrevistadas através de um questionário estruturado. Certificados de óbitos foram verificados por registros obtidos na repartição municipal responsável. Sete pacientes (5,4%) e suas famílias não puderam ser localizadas.
Dos 124 pacientes dos quais as informações estavam disponíveis, 23 (18,5%) tinham morrido, 3 foram vítimas de acidentes(2 morreram de overdose de cocaína e 1 de afogamento, 7 atribuídas a complicações infecciosas devido ao uso intravenoso de drogas (6 casos de AIDS e 1 de Hepatite B) e 13 foram mortos por ferimento por arma de fogo. Os atestados reportaram que essas últimas mortes foram resultados de brigas, punição pela dívida adquirida na compra da droga ou repressão policial.
A idade média para morte foi 27 anos. É possível que alguns desses pacientes que morreram de causas não relacionadas ao HIV fossem HIV positivo, mas esta informação não foi relatada nos certificados de óbito.
O índice de mortalidade, ajustado para sexo e idade, foi de 24.92 por 1000, enquanto que o índice de mortalidade por todas as causas esperado em São Paulo, também ajustado por sexo e idade, seria de 3.28 por 1000.
Dezessete variáveis foram testadas como prognóstico de mortalidade, entre elas: condições demográficas, nível de escolaridade, variáveis relacionadas ao uso de drogas, história criminal, história de tratamento ou admissão prévia em assistência psico-social. Três variáveis foram identificadas como preditoras de mortalidade: história de uso intravenoso de drogas, desemprego e dispensa prematura durante admissão.
Comentários:
Este é um dos primeiros estudos de mortalidade em usuários de crack. Estudos de seguimento nesta população são raros e tendem a não ter a mortalidade como foco principal de investigação, o que torna a comparação com outros dados limitada. O grupo que mais se aproxima, em termos comparativos, é o de usuários de opiáceos em que os estudos usualmente relatam taxas de mortalidade entre 6 e 22 mortes por 1000. Nos países em que estes estudos foram realizados, overdose, AIDS, acidentes e suicídios estiveram entre as principais causas de morte para indivíduos dependentes de opióides. Como o uso de opióides é extremamente raro no Brasil, não há índice de mortalidade correspondente disponível.
Neste estudo, o homicídio foi a principal causa de morte, somando 56% dos casos de morte. No estudo realizado por Hser, 19,5% das mortes foram decorrentes de homicídios, suicídios ou acidentes. Nos Estados Unidos, onde há um regulamento similar ao brasileiro para uso de armas, tem sido debatido que a violência emergente nas proximidades onde ocorre o tráfico de crack prediz um crescimento na taxa de homicídios.
Uma limitação deste estudo foi que a amostra estudada foi proveniente somente de um hospital em que são atendidos pacientes de todas as regiões da cidade de São Paulo e tido como um dos dois únicos hospitais com unidades especializadas em desintoxicação. Isso limita a generalização dos resultados. Os três preditores de morte identificados na análise estatística (dispensa hospitalar prematura, uso anterior de drogas injetáveis e desemprego) devem ser estudados futuramente em outros estudos, já que esses fatores podem auxiliar em mudanças futuras sobre novas formas de tratamento. É preciso elucidar o porquê alguns pacientes deixam o hospital prematuramente a fim de que possamos desenvolver serviços em que esses pacientes de alto risco se engajem no tratamento efetivamente. O fornecimento de agulhas tornou-se cada vez maior no Brasil, entretanto, no momento em que este estudo foi realizado esta prática ainda era ilegal. Essa intervenção provavelmente teria tido um impacto na incidência de novos casos de HIV entre os usuários de drogas intravenosas. O desemprego parece ser a chave para outras variáveis que estão mais diretamente relacionadas ao risco de morte em usuários de cocaína: por exemplo, a privação social. Na opinião dos autores, este e outros problemas sociais requerem soluções de ordem política.
Neste estudo, realizado por pesquisadores brasileiros, foram investigados 131 pacientes dependentes de crack, admitidos para desintoxicação em um importante hospital público de São Paulo nos anos de 1992 a 1994 e que foram reavaliados 5 anos mais tarde.
Amostra, métodos e resultados:
A amostra foi predominantemente jovem (idade média de 23,6 anos), do sexo masculino (88,5%), cor branca (75%), solteira (67%), com baixo grau de escolaridade e desempregada (69%). Todos os indivíduos preencheram critério para diagnóstico de dependência de cocaína segundo o DSM-IV. Sessenta por cento da amostra era de usuários de crack há mais de um ano e 28,7% (n = 35) já havia feito uso injetável de alguma outra substância ilícita. Apenas dois pacientes relataram uso de heroína. Pouco menos de 50% dos pacientes tinham tratamento prévio.
Entre 1998 e 1999, 124 pessoas (94,6%) da amostra original foram encontradas (passado sem média 44,3 meses) e entrevistadas através de um questionário estruturado. Certificados de óbitos foram verificados por registros obtidos na repartição municipal responsável. Sete pacientes (5,4%) e suas famílias não puderam ser localizadas.
Dos 124 pacientes dos quais as informações estavam disponíveis, 23 (18,5%) tinham morrido, 3 foram vítimas de acidentes(2 morreram de overdose de cocaína e 1 de afogamento, 7 atribuídas a complicações infecciosas devido ao uso intravenoso de drogas (6 casos de AIDS e 1 de Hepatite B) e 13 foram mortos por ferimento por arma de fogo. Os atestados reportaram que essas últimas mortes foram resultados de brigas, punição pela dívida adquirida na compra da droga ou repressão policial.
A idade média para morte foi 27 anos. É possível que alguns desses pacientes que morreram de causas não relacionadas ao HIV fossem HIV positivo, mas esta informação não foi relatada nos certificados de óbito.
O índice de mortalidade, ajustado para sexo e idade, foi de 24.92 por 1000, enquanto que o índice de mortalidade por todas as causas esperado em São Paulo, também ajustado por sexo e idade, seria de 3.28 por 1000.
Dezessete variáveis foram testadas como prognóstico de mortalidade, entre elas: condições demográficas, nível de escolaridade, variáveis relacionadas ao uso de drogas, história criminal, história de tratamento ou admissão prévia em assistência psico-social. Três variáveis foram identificadas como preditoras de mortalidade: história de uso intravenoso de drogas, desemprego e dispensa prematura durante admissão.
Comentários:
Este é um dos primeiros estudos de mortalidade em usuários de crack. Estudos de seguimento nesta população são raros e tendem a não ter a mortalidade como foco principal de investigação, o que torna a comparação com outros dados limitada. O grupo que mais se aproxima, em termos comparativos, é o de usuários de opiáceos em que os estudos usualmente relatam taxas de mortalidade entre 6 e 22 mortes por 1000. Nos países em que estes estudos foram realizados, overdose, AIDS, acidentes e suicídios estiveram entre as principais causas de morte para indivíduos dependentes de opióides. Como o uso de opióides é extremamente raro no Brasil, não há índice de mortalidade correspondente disponível.
Neste estudo, o homicídio foi a principal causa de morte, somando 56% dos casos de morte. No estudo realizado por Hser, 19,5% das mortes foram decorrentes de homicídios, suicídios ou acidentes. Nos Estados Unidos, onde há um regulamento similar ao brasileiro para uso de armas, tem sido debatido que a violência emergente nas proximidades onde ocorre o tráfico de crack prediz um crescimento na taxa de homicídios.
Uma limitação deste estudo foi que a amostra estudada foi proveniente somente de um hospital em que são atendidos pacientes de todas as regiões da cidade de São Paulo e tido como um dos dois únicos hospitais com unidades especializadas em desintoxicação. Isso limita a generalização dos resultados. Os três preditores de morte identificados na análise estatística (dispensa hospitalar prematura, uso anterior de drogas injetáveis e desemprego) devem ser estudados futuramente em outros estudos, já que esses fatores podem auxiliar em mudanças futuras sobre novas formas de tratamento. É preciso elucidar o porquê alguns pacientes deixam o hospital prematuramente a fim de que possamos desenvolver serviços em que esses pacientes de alto risco se engajem no tratamento efetivamente. O fornecimento de agulhas tornou-se cada vez maior no Brasil, entretanto, no momento em que este estudo foi realizado esta prática ainda era ilegal. Essa intervenção provavelmente teria tido um impacto na incidência de novos casos de HIV entre os usuários de drogas intravenosas. O desemprego parece ser a chave para outras variáveis que estão mais diretamente relacionadas ao risco de morte em usuários de cocaína: por exemplo, a privação social. Na opinião dos autores, este e outros problemas sociais requerem soluções de ordem política.
Fonte: Albert Einstein
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