Na maior parte das situações, as perturbações
depressivas estão relacionadas com um sentir de indisponibilidade por
parte das figuras de referência; por um sentir de desinvestimento que
acabou por condicionar a existência de
falhas na construção de um EU seguro, com capacidade de iniciativa e
confiante. Muitas vezes, este mal estar interno acaba por impedir a
criança de aprender, gerando-lhe dificuldades de aprendizagem que, num
ciclo vicioso, acabam por potencializar ainda mais o quadro depressivo,
uma vez que aumentam o sentir de “não presto”.
Tal como uma
bola de neve, a partir daqui é sempre a “puxar para baixo”... O sentir
de não presto faz com que a criança desinvista da escola, se desmotive,
e, reaja mal à frustração de não conseguir pois, esse não conseguir
reforça a má imagem que tem de si e ninguém gosta de se sentir assim.
Estas crianças não são casos perdidos...Estas crianças apenas
necessitam de sentir que são olhadas, contidas e investidas
afetivamente.
Esse trabalho cabe, em contexto sala de aula, ao professor.
Quando a criança percebe que alguém investe, ela vai querer agradar esse alguém porque sentir-se investida É BOM!
É certo que acabam por aprender mais por uma “colagem” ao professor, à
figura que querem agradar, do que propriamente por um movimento autônomo
ligado ao prazer de descobrir e conhecer mas, aprendem!
Sou
uma forte defensora da necessidade de articular com os pais, ajuda-los,
gerir com eles estratégias mas, tenho de admitir que, de fato, em
algumas situações, os pais infelizmente não querem essa ajuda, nem estão
sequer disponíveis para “querer saber”. É nestas situações que temos de
ajudar a criança sem contar com os pais...Ajudá-las a perceber que elas
existem...Existem e valem a pena!
Não é tarefa fácil pois, no
meio da sua tristeza e insegurança, estas crianças podem , na sua ânsia
de agradar e sentir que não o conseguem fazer (porque ninguém as ensinou
a acreditar em si mesmas), optar pelo caminho mais complicado,
exteriorizando o seu mal estar interior através do seu comportamento
como a agitação e, por vezes, a agressividade e a necessidade de se
afirmarem como “maus” e assim, ainda que pela negativa, conseguir o tal
sentir de ser olhado, que tanto procuram.
Não são crianças problemáticas...São crianças que precisam reaprender a construção do seu EU...!
Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil
Hospital Particular do Algarve - Alvor
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