O uso abusivo de álcool interfere negativamente na vida do usuário,
seja em termos individuais, seja em seu entorno social imediato ou na
sociedade como um todo. As implicações sociais do abuso de álcool
merecem atenção especial, uma vez que produz efeitos sobre a economia
por gerar, por exemplo, grandes gastos aos cofres públicos ao requerer
consideráveis investimentos do sistema de saúde, judiciário e de outras
instituições sociais.
Dentre os danos sociais decorrentes do uso abusivo de álcool, os
acidentes automobilísticos merecem destaque. Em países desenvolvidos
como os EUA e Canadá, esses acidentes são a consequência de saúde mais
relevante associada ao consumo exagerado de álcool, com consequente
impacto econômico uma vez que, ou as vítimas necessitam de algum tipo de
assistência à saúde ou há o envolvimento de vítimas fatais.
Nos Estados Unidos, conforme dados epidemiológicos relacionados às consequências do consumo de álcool, no trânsito1, tem-se observado que:
1. De todos os acidentes de carro que tenham envolvido o uso de álcool,
ocorridos no ano de 2002, 4% resultaram em morte e 42% em ferimentos
graves. Dos acidentes de carro que não envolveram o uso de álcool, 0,6%
resultaram em morte e 31% em ferimentos graves;
2. Indivíduos do sexo masculino têm uma chance maior de se envolver em
acidentes fatais. Em 2002, 78% dos indivíduos que morreram em acidentes
automobilísticos eram homens, sendo que 46% das mortes estavam
relacionadas ao consumo de álcool;
3. A maioria das fatalidades, relacionadas ao consumo de álcool,
acontece mais prevantemente entre adultos de faixa etária de 21 a 45
anos. O uso de álcool está relacionado a 23% das fatalidades entre
menores de 16 anos, 37% entre indivíduos de 16-20 anos, 57% entre
indivíduos de 21-29 anos, 53% entre indivíduos de 30-45 anos e,
finalmente, 38% das fatalidades entre indivíduos de 46-64 anos;
4. Acidentes de trânsito fatais ocorrem com maior frequência
durante a noite ou nos finais de semana, dentre os quais 77% ocorreram
entre as 18hs e 6hs;
5. Jovens com alcoolemia até 0,2 g/L tem 1,5 vezes a mais de
chances de sofrer acidentes com vítimas fatais. A partir de 0,2 g/L o
risco aumenta para 2,5 vezes, para todas as faixas etárias. Com 0,5 g/L,
esse risco aumenta para 6 vezes a mais em comparação ao condutor
sóbrio.2
No Brasil, constatou-se que 38,4% dos adultos (que têm carteira de
habilitação e costumam beber) possuem o hábito de associar bebida à
direção, sendo esse um grande motivo de preocupação. Estudos pontuais e
regionais apontam que a ingestão de bebidas alcoólicas é uma das
principais causas de mortes por causas externas.
Um estudo retrospectivo de todas as autópsias dos casos de morte
por acidentes de trânsito, ocorridas no ano de 1999, apontou que
aproximadamente 50% dos óbitos estavam associados ao uso de álcool. Além
disso, os acidentes de trânsito foram a segunda causa de morte mais
frequente. Em consonância com os dados norte-americanos, o
comportamento de beber e dirigir parece ser mais comum entre os homens.
Vítimas de morte por causas externas, do ano de 1999, autopsiadas no IML-SP
Tipo de morte
|
n.º de casos
|
%
|
Homicídios
|
5 284
|
49,16
|
Acidentes Trânsito
|
2 360
|
21,96
|
Morte Suspeita
|
1 232
|
11,46
|
Outros
|
1 045
|
09,72
|
Sem história
|
420
|
03,91
|
Suicídios
|
408
|
03,80
|
Total
|
10 749
|
100,00
|
Fonte IML - Sede- São Paulo (1999)
Tabela 2 - Distribuição das mortes por acidentes de trânsito em relação à
presença de alcoolemia positiva e ao sexo da vítima. 3
Alcoolemia
|
Grupo geral
|
Homens
|
Mulheres*
|
Negativos
|
1 251 (53%)
|
1058 (50,1%)
|
193 (77,2%)
|
Positivos
|
1 109 (47%)
|
1052 (49,9%)
|
57 (22,8%)
|
Total
|
2 360
|
2110
|
250
|
Observação: 2110 casos de homens = 89, 41% de todos os acidentes; 250 casos de mulheres = 10,59% de todos os acidentes
Tabela 3 - Análise estatística
da idade (anos) das vítimas fatais, no ano de 1999, do Instituto Médico
Legal de São Paulo (IML-SP) distribuídas pelo sexo e alcoolemia3
Idade
|
Homens
|
Mulheres
|
|
grupo geral
n= 2110
|
Negativo
n= 1058
|
Positivo
n= 1052
|
grupo geral
n= 250
|
Negativo *
n= 193
|
Positivo *
N= 57
|
Média
|
36,2
|
36,5
|
35,9
|
41,3
|
43,2
|
27,5
|
Desvio-padrão
|
15,3
|
17,5
|
12,7
|
19,2
|
19,9
|
11,5
|
Mediana
|
34
|
32
|
34
|
39
|
42,5
|
34
|
(* p<0,05 = idade das vítimas do sexo
feminino com alcoolemia positiva é diferente da idade das vítimas com
alcoolemia negativa)