sexta-feira, 11 de abril de 2014

ÁLCOOL E DIREÇÃO NÃO SE MISTURAM

O uso abusivo de álcool interfere negativamente na vida do usuário, seja em termos individuais, seja em seu entorno social imediato ou na sociedade como um todo. As implicações sociais do abuso de álcool merecem atenção especial, uma vez que produz efeitos sobre a economia por gerar, por exemplo, grandes gastos aos cofres públicos ao requerer consideráveis investimentos do sistema de saúde, judiciário e de outras instituições sociais.

Dentre os danos sociais decorrentes do uso abusivo de álcool, os acidentes automobilísticos merecem destaque. Em países desenvolvidos como os EUA e Canadá, esses acidentes são a consequência de saúde mais relevante associada ao consumo exagerado de álcool, com consequente impacto econômico uma vez que, ou as vítimas necessitam de algum tipo de assistência à saúde ou há o envolvimento de vítimas fatais.
 
Nos Estados Unidos, conforme dados epidemiológicos relacionados às consequências do consumo de álcool, no trânsito1, tem-se observado que:
 
1. De todos os acidentes de carro que tenham envolvido o uso de álcool, ocorridos no ano de 2002, 4% resultaram em morte e 42% em ferimentos graves. Dos acidentes de carro que não envolveram o uso de álcool, 0,6% resultaram em morte e 31% em ferimentos graves;

2. Indivíduos do sexo masculino têm uma chance maior de se envolver em acidentes fatais. Em 2002, 78% dos indivíduos que morreram em acidentes automobilísticos eram homens, sendo que 46% das mortes estavam relacionadas ao consumo de álcool;
 
 

3. A maioria das fatalidades, relacionadas ao consumo de álcool, acontece mais prevantemente entre adultos de faixa etária de 21 a 45 anos.  O uso de álcool está relacionado a 23% das fatalidades entre menores de 16 anos, 37% entre indivíduos de 16-20 anos, 57% entre indivíduos de 21-29 anos, 53% entre indivíduos de 30-45 anos e, finalmente, 38% das fatalidades entre indivíduos de 46-64 anos;
 
4. Acidentes de trânsito fatais ocorrem com maior frequência durante a noite ou nos finais de semana, dentre os quais 77% ocorreram entre as 18hs e 6hs;
 
5. Jovens com alcoolemia até 0,2 g/L tem 1,5 vezes a mais de chances de sofrer acidentes com vítimas fatais. A partir de 0,2 g/L o risco aumenta para 2,5 vezes, para todas as faixas etárias. Com 0,5 g/L, esse risco aumenta para 6 vezes a mais em comparação ao condutor sóbrio.2

No Brasil, constatou-se que 38,4% dos adultos (que têm carteira de habilitação e costumam beber) possuem o hábito de associar bebida à direção, sendo esse um grande motivo de preocupação. Estudos pontuais e regionais apontam que a ingestão de bebidas alcoólicas é uma das principais causas de mortes por causas externas.



Um estudo retrospectivo de todas as autópsias dos casos de morte por acidentes de trânsito, ocorridas no ano de 1999, apontou que aproximadamente 50% dos óbitos estavam associados ao uso de álcool. Além disso, os acidentes de trânsito foram a segunda causa de morte mais frequente. Em consonância com os dados norte-americanos, o comportamento de beber e dirigir parece ser mais comum entre os homens.

 Vítimas de morte por causas externas, do ano de 1999, autopsiadas no IML-SP
 
Tipo de morte
n.º de casos
     %
Homicídios
5 284
49,16
Acidentes Trânsito
2 360
21,96
Morte Suspeita
1 232
11,46
Outros
1 045
09,72
Sem história
420
03,91
Suicídios
408
03,80
Total
10 749
100,00
Fonte IML - Sede- São Paulo (1999)
 
Tabela 2 -  Distribuição das mortes por acidentes de trânsito em relação à
presença de alcoolemia positiva e ao sexo da vítima. 3
Alcoolemia
Grupo geral
Homens
Mulheres*
Negativos
1 251  (53%)
1058  (50,1%)
193 (77,2%) 
Positivos
1 109  (47%)
1052  (49,9%)
57 (22,8%)  
Total
2 360
    2110 
    250
 
Observação: 2110 casos de homens = 89, 41% de todos os acidentes; 250 casos de mulheres = 10,59% de todos os acidentes
 
      Tabela 3 - Análise estatística da idade (anos) das vítimas fatais, no ano de 1999, do Instituto Médico Legal de São Paulo  (IML-SP) distribuídas pelo sexo e alcoolemia3
 
Idade
Homens
Mulheres
 
grupo geral
n= 2110
Negativo
n= 1058
Positivo
n= 1052
grupo geral
n= 250
Negativo *
n= 193
Positivo *
N= 57
Média
36,2
36,5
35,9
41,3
43,2
27,5
Desvio-padrão
15,3
17,5
12,7
19,2
19,9
11,5
Mediana
34
32
34
39
42,5
34
(* p<0,05 = idade  das vítimas do sexo feminino com alcoolemia positiva é diferente da idade das vítimas com alcoolemia negativa)


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