A recuperação do adolescente dependente de drogas
Fonte: Conversa afiada
O crescimento do consumo de drogas por parte dos jovens brasileiros vem colocando a sociedade diante de dois desafios. Um é a elaboração de campanhas educativas e de outros instrumentos de prevenção que apresentem real eficácia. O outro, a estruturação de sistemas de recuperação especialmente voltados à realidade do adolescente. Ao contrário do adulto, que pode ser levado a reconectar um senso de identidade perdido ao longo do período de dependência, o jovem tem que, além de enfrentar a adição, trabalhar pela definição dessa identidade própria.
O quadro é complexo e exige a percepção de que a maior parte do problema continua concentrada nas chamadas drogas lícitas - álcool, tabaco e psicotrópicos - cujo consumo é fartamente estimulado e emove grandes interesses econômicos. Exige, ainda, o reconhecimento de que o uso de certas drogas pode ser apenas parte do processo de desenvolvimento de alguns adolescentes, se interrompendo na vida adulta sem necessidade de um tratamento intensivo.
O que dizem os especialistas
Normas e Procedimentos na Abordagem ao Abuso de Drogas, publicação do Ministério da Saúde elaborada por quinze renomados especialistas brasileiros, desistifica dois conceitos muito populares, mas em qualquer base científica: a) o de que haveria uma gradação no qual o usuário de drogas ingressaria, sem retorno: começaria pela maconha e, seguindo uma escala crescente, inevitavelmente chegaria às drogas mais pesadas; b) o de que a droga, em si mesma, induz ações criminosas ou atitudes perversas. "O caráter qualitativo, destrutivo ou não, da ação praticada por alguém sob o efeito de uma substância psicoativa depende essencialmente de sua personalidade e das circunstâncias emocionais e sociais que induzem ao consumo", aponta o texto.
Um dos responsáveis pela publicação, Dr. Walter Mundin, do Conselho de Entorpecentes de Minas Gerais, enfatiza esta abordagem: "O tratamento terá mais êxito quando centrado no indivíduo e seu grupo social, nas questões fundamentais das relações interpessoais, e menos no hábito, propriamente dito, de tomar drogas".
Normas e Procedimentos na Abordagem ao Abuso de Drogas, publicação do Ministério da Saúde elaborada por quinze renomados especialistas brasileiros, desistifica dois conceitos muito populares, mas em qualquer base científica: a) o de que haveria uma gradação no qual o usuário de drogas ingressaria, sem retorno: começaria pela maconha e, seguindo uma escala crescente, inevitavelmente chegaria às drogas mais pesadas; b) o de que a droga, em si mesma, induz ações criminosas ou atitudes perversas. "O caráter qualitativo, destrutivo ou não, da ação praticada por alguém sob o efeito de uma substância psicoativa depende essencialmente de sua personalidade e das circunstâncias emocionais e sociais que induzem ao consumo", aponta o texto.
Um dos responsáveis pela publicação, Dr. Walter Mundin, do Conselho de Entorpecentes de Minas Gerais, enfatiza esta abordagem: "O tratamento terá mais êxito quando centrado no indivíduo e seu grupo social, nas questões fundamentais das relações interpessoais, e menos no hábito, propriamente dito, de tomar drogas".
Projetos que dão certo
A partir de dez anos de experiência clínica e de parcerias com o Projeto Axé, Casa de Assistência ao Menor e Conselhos Tutelares, o Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas – CETAD, extensão permanente da UFBA, criou o Grjupo de Assistência Intergral ao Adolescente - GAIA. O programa propõe oito linhas de ação, entre as quais acompanhamento psicoterápico individual e de grupo; oficinas terapêuticas de expressão, artes e esportes; grupos de reflexão para a família e capacitação de profissionais e de outros grupos.
Executado pelo PROAD - Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Projeto Quixote atende crianças e adolescentes em situação de risco/rua através de estratégias lúdicas (oficinas de cerâmica, fotografia, culinária, horta, percussão etc), clínicas (saúde global: pediatria, psiquiatria, psicologia, assistência social) e pedagógicas (com abordagem de rua, atendimento à família e oficinas de escrita). O Quixote também oferece cursos de capacitação e supervisão a técnicos da área.
O GREA - Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas, do Hospital das Clínicas da USP, mantém projeto de atendimento de adolescentes que inclui terapia individual e de grupo, além de assistência aos familiares. Um dos trabalhos mais inovadores do GREA é o desenvolvimento de um sistema de "internação familiar", que vem sendo aplicado com sucesso, inclusive no que se refere à dependência de álcool e crack.
CETAD, PROAD e GREA são alguns dos nove Centros de Referência do país definidos pelo CONFEN - Conselho Federal de Entorpecentes.
A partir de dez anos de experiência clínica e de parcerias com o Projeto Axé, Casa de Assistência ao Menor e Conselhos Tutelares, o Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas – CETAD, extensão permanente da UFBA, criou o Grjupo de Assistência Intergral ao Adolescente - GAIA. O programa propõe oito linhas de ação, entre as quais acompanhamento psicoterápico individual e de grupo; oficinas terapêuticas de expressão, artes e esportes; grupos de reflexão para a família e capacitação de profissionais e de outros grupos.
Executado pelo PROAD - Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Projeto Quixote atende crianças e adolescentes em situação de risco/rua através de estratégias lúdicas (oficinas de cerâmica, fotografia, culinária, horta, percussão etc), clínicas (saúde global: pediatria, psiquiatria, psicologia, assistência social) e pedagógicas (com abordagem de rua, atendimento à família e oficinas de escrita). O Quixote também oferece cursos de capacitação e supervisão a técnicos da área.
O GREA - Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas, do Hospital das Clínicas da USP, mantém projeto de atendimento de adolescentes que inclui terapia individual e de grupo, além de assistência aos familiares. Um dos trabalhos mais inovadores do GREA é o desenvolvimento de um sistema de "internação familiar", que vem sendo aplicado com sucesso, inclusive no que se refere à dependência de álcool e crack.
CETAD, PROAD e GREA são alguns dos nove Centros de Referência do país definidos pelo CONFEN - Conselho Federal de Entorpecentes.
Droga e exclusão social
O tema das drogas é atravessado caleidoscopicamente por múltiplas inscrições: desejantes, institucionais, ideológicas, sócio-culturais, políticas, etc. É necessário saber que há vários "usos" de substâncias psicoativas ao longo da história da humanidade e que uso e dependência são situações absolutamente diferentes.
A clínica da dependência é a clínica da privação de liberdade. O sofrimento do dependente decorre de múltiplos fatores, o principal dos quais, talvez, de ter o centro de sua vida deslocado de si mesmo em direção à busca, imperiosa e incontrolável, do objeto do qual depende. "Esse obscuro objeto do desejo". Um prazer em curto-circuito. De umas "férias químicas de si mesmo" para a crueldade de um auto-enclausuramento.
A toxicomania é um buraco negro que suga violentamente a criatividade; que escorraça a subjetividade em direção a intensos conflitos de naturezas diver-sas. O corpo perde potência e superfície; vai se "encasulando" dentro dos limites da própria pele. Um corpo oprimido e fissurado.
Consideremos como exemplo o consumo de crack em São Paulo por crianças e adolescentes em situação de rua. O componente perverso - porque escravizante - de sua comercialização, é circunstância quase que inevitável no circuito da miséria e da rua. Explica-se, pois, a facilidade com que uma criança que pipa crack na Praça da Sé larga a "dependência" à pedra quando lhe é garantido um lugar onde dormir, onde comer, onde criar e trocar afeto de uma forma sustentada ao longo do tempo. Criança que brinca não pipa.
O crack em São Paulo é uma questão de saúde pública. Expressão cruel de uma contemporaneidade cruel, repleta de frágeis soluções e de falsos problemas. Não se trata de clínica ou tratamento, mas de ética e humani-dade.
Dos riscos, o mais soberbo em arbitrariedade e truculência é o de medicalizarmos uma questão social. Se nos referirmos aos jovens em situação de subumanidade, aprisionados no crack, como sendo toxicômanos, correremos o risco de interná-los – compulsoriamente – em dispositivos institucionais, de altíssimos muros e voraz vigilância, para tratar quem não deseja trata-mento, privar de liberdade quem sofre com o crack e com as limitações que a própria miséria impõe, além de fracassar obviamente nos objetivos de tão obtusa intervenção.
Há muitos trabalhos já consagrados pela mídia e tantos outros ainda sem visibilidade que são, evidentemente, alternativas muito mais eficazes e justas no resgate de dignidade e leveza, tão fundamentais à criança e ao adolescente. Das "sócio-educativas" às ético-estéticas.
A estridência deste grito das grandes cidades é o timbre de uma reivindicação que exige reflexão e compromisso de diversos setores da sociedade, guiados entretanto pelo espírito da liberdade e democracia, ética e solidariedade. Que a urgência das coisas não justifique aberrações de cidadania.
O tema das drogas é atravessado caleidoscopicamente por múltiplas inscrições: desejantes, institucionais, ideológicas, sócio-culturais, políticas, etc. É necessário saber que há vários "usos" de substâncias psicoativas ao longo da história da humanidade e que uso e dependência são situações absolutamente diferentes.
A clínica da dependência é a clínica da privação de liberdade. O sofrimento do dependente decorre de múltiplos fatores, o principal dos quais, talvez, de ter o centro de sua vida deslocado de si mesmo em direção à busca, imperiosa e incontrolável, do objeto do qual depende. "Esse obscuro objeto do desejo". Um prazer em curto-circuito. De umas "férias químicas de si mesmo" para a crueldade de um auto-enclausuramento.
A toxicomania é um buraco negro que suga violentamente a criatividade; que escorraça a subjetividade em direção a intensos conflitos de naturezas diver-sas. O corpo perde potência e superfície; vai se "encasulando" dentro dos limites da própria pele. Um corpo oprimido e fissurado.
Consideremos como exemplo o consumo de crack em São Paulo por crianças e adolescentes em situação de rua. O componente perverso - porque escravizante - de sua comercialização, é circunstância quase que inevitável no circuito da miséria e da rua. Explica-se, pois, a facilidade com que uma criança que pipa crack na Praça da Sé larga a "dependência" à pedra quando lhe é garantido um lugar onde dormir, onde comer, onde criar e trocar afeto de uma forma sustentada ao longo do tempo. Criança que brinca não pipa.
O crack em São Paulo é uma questão de saúde pública. Expressão cruel de uma contemporaneidade cruel, repleta de frágeis soluções e de falsos problemas. Não se trata de clínica ou tratamento, mas de ética e humani-dade.
Dos riscos, o mais soberbo em arbitrariedade e truculência é o de medicalizarmos uma questão social. Se nos referirmos aos jovens em situação de subumanidade, aprisionados no crack, como sendo toxicômanos, correremos o risco de interná-los – compulsoriamente – em dispositivos institucionais, de altíssimos muros e voraz vigilância, para tratar quem não deseja trata-mento, privar de liberdade quem sofre com o crack e com as limitações que a própria miséria impõe, além de fracassar obviamente nos objetivos de tão obtusa intervenção.
Há muitos trabalhos já consagrados pela mídia e tantos outros ainda sem visibilidade que são, evidentemente, alternativas muito mais eficazes e justas no resgate de dignidade e leveza, tão fundamentais à criança e ao adolescente. Das "sócio-educativas" às ético-estéticas.
A estridência deste grito das grandes cidades é o timbre de uma reivindicação que exige reflexão e compromisso de diversos setores da sociedade, guiados entretanto pelo espírito da liberdade e democracia, ética e solidariedade. Que a urgência das coisas não justifique aberrações de cidadania.
Auro Danny Lescher
Coordenador do Projeto Quixote
Jovens e drogas - Quem pode ser ouvido
l CONFEN - Conselho Federal de Entorpecentes
Fone: (061) 218-3318 ou 218-3395
l Projeto Quixote - Auro Danny Lescher
Fone: (011) 571-9476
l Projeto Gaia - Luiz Alberto Tavares
Fone: (071) 336-8673 ou 336-3322
l GREA - Sandra Scivoletto
Fone: (011) 3064-4973
l Centro Mineiro de Toxicomania - Antonieta
Bizzotto. Fone: (031) 273-5844
l UNDPC - Programa das Nações Unidas para o
Controle Internacional de Drogas
Giovanni Quaglia. Fone: (061) 224-1423
FONTE:http://www.aracaju.se.gov.br/crianca/artigos6.asp
Coordenador do Projeto Quixote
Jovens e drogas - Quem pode ser ouvido
l CONFEN - Conselho Federal de Entorpecentes
Fone: (061) 218-3318 ou 218-3395
l Projeto Quixote - Auro Danny Lescher
Fone: (011) 571-9476
l Projeto Gaia - Luiz Alberto Tavares
Fone: (071) 336-8673 ou 336-3322
l GREA - Sandra Scivoletto
Fone: (011) 3064-4973
l Centro Mineiro de Toxicomania - Antonieta
Bizzotto. Fone: (031) 273-5844
l UNDPC - Programa das Nações Unidas para o
Controle Internacional de Drogas
Giovanni Quaglia. Fone: (061) 224-1423
FONTE:http://www.aracaju.se.gov.br/crianca/artigos6.asp
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