sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O ESPORTE CONTRA O CRACK


Por Patrícia Osandón
Com o lema “Crack, é possível vencer”, a presidente da República, Dilma Roussef, e os ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciaram, no final de 2011, um investimento de R$4 bilhões para o enfrentamento ao crack e outras drogas.

A iniciativa do Governo Federal, composta por um conjunto de ações integradas, foi lançada com a finalidade de promover o aumento da oferta de tratamento de saúde aos usuários de drogas e enfrentar o tráfico e as ações criminosas, bem como a ampliação das ações de prevenção.

O coordenador do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori ressalta que o esporte, assim como a família e a sociedade, são fortes elementos para gerar o que denomina de coesão social. “No dia a dia, as pessoas que praticam esporte com regularidade, tornam-se parte de algo maior. Esse fazer parte de algo maior gera coesão social. Os grupos que são coesos se apoiam e estimulam noções de pertencimento, participação e colaboração. É importante também que os atletas profissionais estejam preocupados em não replicar a ideia de que o esporte é só para os superatletas. Todo mundo tem que ter chances de participar, de jogar”, conclui.

“O uso de música, meditação, leituras, expressão artística e, também, a prática de esportes, dentro de um programa maior de atenção ao dependente químico, e ao jovem candidato à experimentação de drogas como crack, têm mostrado evidências significativas. Mas ainda considero fundamental a prevenção no lar e escola”, complementa o conselheiro da Associação Brasileira do Estudo do Álcool e outras Drogas (Abead), Carlos Salgado, para quem o esporte é ferramenta fundamental tanto na prevenção quanto na recuperação de dependentes químicos.

Por outro lado, o especialista alerta para os riscos envolvidos na combinação de esporte e tabaco ou álcool disponível em peças publicitárias: “Na questão do tabaco houve um significativo avanço, já diante do álcool, parece inevitável a venda da saúde de nossos jovens a uma grande indústria cervejeira internacional que se consumará na disponibilidade de imagens de torcedores bebendo cerveja nos estádios escalados para a Copa do Mundo”.

Nesse contexto, Carlos Salgado reforça o papel de familiares e professores no combate às drogas. “A negligência de pais e professores em relação ao consumo de álcool por crianças e adolescentes, dentro de casa e em festas, é brutal em nosso país. O álcool, junto com o tabaco, é a porta de entrada para uso de substâncias ilícitas mais complicadas”, explica. Ele acrescenta que a história de usuários de drogas ilícitas começa, em geral, com as drogas lícitas. ”As atitudes de pais e professores, donos de bares e organizadores de festas privadas e públicas diante da ilegalidade de venda e da oferta de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes é fundamental”, afirma.

“Crack, é possível vencer”

O programa “Crack, é possível vencer” foi estruturado em três eixos, que são: cuidado, autoridade e prevenção. No primeiro eixo, estão previstas ações de ampliação e qualificação da rede de atenção à saúde aos usuários. O eixo de autoridade foca-se na integração de inteligência e trabalho em cooperação da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias estaduais, com ações de policiamento nos pontos de uso de drogas nas cidades. Em relação à prevenção, o programa prevê a realização de ações nas escolas e nas comunidades. 

No plano, estão previstas ações que envolvem a criação de enfermarias especializadas nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) até 2014, com investimento estimado em R$670,6 milhões, além da criação de mais de mais de 300 consultórios de rua. Também são ações importantes do plano a criação de Unidades de Acolhimento, para o controle da abstinência e o cuidado da estabilidade clínica, além da estruturação da rede de cuidados “Conte com a Gente”, que atuará com a recuperação de dependentes químicos e familiares.

A novidade das ações são os chamados consultórios de rua. Devido ao custo mais acessível, o crack tem atingindo escalas devastadoras de consumo. Tykanori acrescenta que a ideia dos consultórios de rua é justamente estar perto das populações em situação de vulnerabilidade, o que engloba, também, moradores em situação de rua. “Como se trata de uma droga ilícita, isso faz com que os usuários busquem o sistema de saúde quando estão muito debilitados ou com um problema muito grave. Os consultórios de rua podem atuar no cuidado de piores condições e cria possibilidades de um tratamento mais prolongado”, acrescenta.   


A importância das políticas públicas e ações efetivas 

O problema de enfrentamento ao crack demanda ações muito mais complexas e duradouras e que, efetivamente, saiam do papel, como alerta Carlos Salgado: “Por enquanto, como de resto em toda a área da saúde, os esforços têm sido mais de mídia do que de promoção da saúde do dependente químico. As promessas de instalação de serviços são restritas e poucas chegam à efetivação. Como o Governo Federal claramente não prioriza a destinação de recursos para áreas da saúde, não há plano bem divulgado que seja efetivo. Em resumo, sem destinação de recursos de porte e de fôlego, ficaremos com mais factoides do que fatos”, alerta o especialista.

É nisto que a ONG Craque Só de Bola acredita, em que se houver interesse político e sensibilidade, pode-se criar uma rede que venha a diminuir o número de dependentes químicos, principalmente o crack. As muitas vezes que entramos em contato com o poder público municipal, onde muitas vezes não se há respostas as solicitações encaminhadas, perde-se um precioso tempo, que nos leva a acreditar que muitas pessoas não se importam com o tema. Isto só acontece porque os "donos do poder" não têm nenhuma pessoa da família envolvida com algum tipo de droga. Se isto acontecesse, talvez essas pessoas tivessem sensibilidade em cooperar com programas e projetos ligados ao combate e prevenção.

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